Um trabalho
fotojornalístico só faz sentido de uma única maneira: caminhar incansavelmente,
e ter como única certeza que, embora o
jornalista tenha se preparado e pesquisado o tema para o qual ele se propôs a
fotografar, muito provavelmente, pode não encontrar o que quer. O sentimento do
jornalista pode-se dizer, é o mesmo de um romeiro, que sai de casa para
caminhar, e dar a volta ao mundo inteiro se for preciso, para, no final das
contas, nem sempre alcançar a graça almejada. Todavia, a parábola do jornalista
e do romeiro converge para uma mesma base, à qual dá novo fundamento à vida, e
sobre o qual ambos podem se apoiar. Refiro-me, caro leitor, à fé.
Assim, por meio das
densas dúvidas celestiais, a fé nos dá algo: a certeza de fruir experiências
atemporais, como ajoelhar-se para pedir perdão por sentimentos como avareza,
inveja, ou erguer as mãos em direção ao céu na esperança de algo abençoado
recair no mundo. E, fruindo experiências de fé, este trabalho fotográfico foi
construído. Aliás, está em construção, pois nada mais alivia a razão de um
repórter fotográfico do que o gosto de voltar para o mesmo lugar de outrora, a
fim de registrar a fotografia que não foi revelada.
O Cristianismo,
como religião de experiência histórica, não pode ser encarado como a religião
de um livro, assim como a fotografia não pode ser definida como técnica
mecânica de registrar imagens. Nesse sentido, concebe-se a fé como substância
das coisas que se esperam; das coisas que não se veem. Por outro lado,
concebe-se a fotografia como o amor dos olhos pela beleza e a variedade das
formas, o brilho e a tonalidade das cores e o contraste de luzes e sombras.
Soa cômico quando a
fotografia é criticada por não ter valor de culto, ou seja, que a imagem
fotográfica não tem aura. Ora, o filósofo ao menos se dedicou, se entregou sob
o sol ou sob a chuva para sentir aquele momento único e singular de apertar o
botão, eternizando, assim, um fragmento da realidade? O mesmo ocorre quando o
filósofo diz que a fé nada faz para evitar uma guerra. Há alguns anos, quantos
não me recordo, o habito de flanar com a câmera fotográfica nas mãos, a fim de
afastar a melancolia e regular a circulação sanguínea, indicou uma forte
resistência à falta de dinheiro e à ociosidade. Além disso, revelou que, em
toda imagem, reside a noção de transcendência, pois o momento fugidio captado
pela câmera, significa a intuição permanente que, tanto o romeiro como o olhar
fotográfico, têm de que todas as coisas terrenas são
passageiras.