Cena 1
Márcio é um estudante da
rede pública da periferia do estado de São Paulo, atualmente está no 6° ano e
logo ingressará no 7° ano. Seus pais sem muito estudo, pensam que Márcio é um
aluno exemplar, já que ano após ano Márcio passa de ano sem nem mesmo repetir.
A realidade é muito diferente, raro é o dia em que Márcio não vai até a sala da
coordenadora de sua escola por faltar com respeito com o professor. Aluno frequente,
porém incapaz de ler um texto com segurança, quando se arrisca a ler, o que se
ouve é uma leitura trôpega e cansativa, mal consegue decifrar as primeiras
linhas de um texto e ai vai Márcio rumo ao ensino superior.
Cena 2
Camila tem 13 anos de
idade, por outro lado é o oposto de Márcio, esta sim é uma aluna exemplar,
notas sempre excelentes, entusiasmada com o conteúdo dado em aula pelos
professores. Desde pequena já demonstrou confiança para leitura e escrita e se
destacou na sala de aula. Ao contrário de Márcio, Camila é moradora do Rio de
Janeiro e estuda em uma das melhores escolas da região, o único problema de
Camila é a falta de respeito com os professores em geral, pois pensa que é a
dona do mundo, já que vem de família rica e acredita piamente que seu pai que
paga o salário dos professores.
Cena 3
Miguel tem 14 anos, já
foi expulso duas vezes das escolas por onde passou e não se lembra da última
vez em que esteve em uma sala de aula. Se duvidar, não sabe ler. Seu sonho é
voltar a estudar, porém sendo rebelde, sabe que não vai tardar a ser expulso de
novo, caso entre em outra escola. Assim vive Miguel no interior da
Paraíba.
Os cenários acima, todos eles fictícios apontam uma realidade tão
comum nos dias atuais. A falta de respeito com os professores em sala de aula é
notável, embora muitas vezes não são divulgadas. Em uma recente pesquisa
divulgada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
revelou que o Brasil está liderando o ranking de violência em escolas. O estudo
mundial ouviu mais de 100 mil professores e no Brasil 12,5% dos entrevistados
alegaram ser vítimas de agressões verbais pelo menos uma vez na semana,
enquanto em países como a Coreia do Sul o índice de agressão contra professores
é zero.
Infelizmente a agressão faz parte da rotina do professor. Desta
forma surgem algumas questões: Porque quem deveria ser respeitado está sendo
tratado com tanto desrespeito? Teria o professor alguma culpa ou seria a escola
culpada por perder o vínculo com a comunidade ao qual está inserida?
Difícil é responder tais perguntas, mas fato é que cada vez o
professor tem perdido o respeito que deveria ter em sala de aula, a posição
autoritária tem mudado de lado, o professor que deveria instruir, está sendo
instruído a como se comportar por adolescentes em sala de aula, já que qualquer
deslize, ele é obrigado a conviver com a agressão e ameaças de morte.
Sem sombra de dúvida a escola também é culpada por esse número
apresentado pelo OCDE, já que muitas vezes um ambiente de respeito entre alunos
e professores é inexistente, a falta de um professor conciliador que represente
a escola em uma reunião de pais também é ausente na maioria dos casos e
principalmente a necessidade de saber lidar com ex-alunos e traficantes usando
à política da boa vizinhança. Desta forma, a escola acaba sendo tratada com um
certo apreço pela comunidade. É claro, pessoas estranhas não devem ter acesso à
escola, a segurança é algo importante.
Claramente é uma evolução, a
cerca de dez anos as pichações eram recorrentes, aos poucos deram lugar à
agressões mútuas entre alunos, o bullying também deu as caras e agressões
interpessoais surgiram tendo os mestres como principais alvos. Os mais fortes
aguentam, outros se respondem, outros se afastam e há mesmo os que atentam contra
a própria vida, depois de notar que perderam o valor como professores e quando
não tentam o suicídio são vítimas da depressão.
Outro problema que pode ser mencionado é com relação a cena dois,o
que seria a sensação de superioridade que alguns alunos apresentam, em primeiro
lugar por serem seus pais que pagam a escola, logo o salário dos professores e
em segundo por se tratarem de pessoas de famílias boas de vida. Desta forma,
alguns gostam de se sentir no direito de destratarem o professor, fazer pouco
causo e muitas vezes diminuindo o professor perante a sala toda.
O fato é que o Brasil está em outro ranking em posição ruim no que
concerne a educação, em raciocínio lógico e problemas ligados ao dia a dia, o Brasil
ficou na posição 38°, entre 44 países avaliados no último Pisa. Este é o reflexo
da convivência entre professores mal preparados e alunos despreocupados em que
falta o letramento destes alunos, para que assim possam se desenvolver melhor
na escola e se sintam em uma ambiente em que são motivados a aprender e não
necessariamente passem de ano sem haver mérito algum, desta forma pode até
melhorar a taxa de analfabetismo funcional que segundo o Inaf de 2012, no
Brasil há 27,8 milhões ou 18,3% da população.
Não que seja algo milagroso e iria resolver o problema de vez, mas
o aumento da vigilância policial na escola e imediações, o diálogo entre
professores e alunos e outras medidas já mencionadas poderiam fazer algum
efeito para que os cenários vistos acima não sejam tão recorrentes nos
noticiários quando divulgados, mas sim se torne um ambiente em que motive o
professor a lecionar e o aluno a aprender. Quem sabe nos próximos anos a gente
consiga chegar perto da Coreia do Sul na pesquisa da OCDE. É difícil de
ocorrer, porém não é possível, basta se levar a educação mais a sério e o
resultado poderá ser notado.