As biografias foram debatidas em meio a
várias polêmicas. A produtora Paula Lavigne se tornou porta-voz do
grupo Procure Saber (formado pelos músicos Caetano Veloso, Chico Buarque,
Djavan, Erasmo Carlos, Gilberto Gil e Milton Nascimento), e declarou que os
artistas estavam se mobilizando para impedir mudanças nos artigos 20 e 21 do
Código Civil. Segundo o Procure Saber, essas alterações podem expor os músicos
indevidamente em biografias.
Roberto Carlos apoiou o grupo no início e
devido a desentendimentos internos saiu do Procure Saber. Em julho de 2013 os
artistas do grupo pressionaram o Senado para aprovar o projeto de lei que muda
as regras de arrecadação e distribuição de direitos autorais.
O
Código Civil garante que toda pessoa que se sentir difamada, caluniada pode
entrar com uma ação judicial exigindo um pedido de desculpas público ou até
indenizações. Atualmente as biografias não autorizadas podem ser publicadas,
salvo em casos como os citados anteriormente. Os escritores Ruy Castro, Paulo
Cesar Araújo, Lira Neto e Alceu Valença já se posicionaram contra essa
tentativa de “censura”, imposta pelos artistas. Mas, porque hoje essa censura
prévia de ícones da MPB, que na ditadura militar pregavam a liberdade de
expressão?
Caetano
Veloso em 1968, no 3° Festival Nacional em repostas as vaias que havia
recebido, respondeu “Eu digo não ao não. Eu digo. É proibido proibir! É
proibido proibir! É proibido proibir! É proibido proibir!” – O tempo passou e
parece que o Caetano mudou o discurso. Naquela época de exceção que o país
passava, no qual a ditadura já evocava a proibição das liberdades civil e de
expressão. Era absolutamente plausível à manifestação contra as arbitrariedades
e censuras na música. Hoje seria um retrocesso criar mecanismos de proibição,
como está sendo proposto pelo Procure Saber.
Membros
do Tropicalismo como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano que tanto defendiam
a liberdade de expressão na ditadura, e hoje querem censurar livros (?). Quem
te viu, quem te vê? – Tenho a impressão que em breve vão mudar de ideia. Pois o
Procure Saber não tem uma linha definida, faltam argumentos mais plausíveis, e
a Paula Lavigne foi um desastre como líder dessa iniciativa. Agora o Roberto
Carlos barrar obras, não é novidade. Em 2006 ele venceu na justiça a queda de
braço com a editora Planeta, e o biografo Paulo Cesar Araújo, que
publicaram a biografia não autorizada “Roberto Carlos em Detalhes”. Todos os
exemplares foram retirados do mercado e ficou acordado que não se poderia
republicada a obra, - existem outras biografias do Roberto, essas sim!
Autorizadas. Como “Folha Explica - Roberto Carlos”, de Oscar Pilagallo e “Como
Dois e Dois São Cinco”, de Pedro Alexandre Sanches.
O
que o grupo dos artistas está a divulgar é, que as biografias não invadam as
suas privacidades, - mas como escrever uma obra sem citar a vida particular
dessas figuras públicas? É impossível! A bibliografia mais fiel ao personagem
tem que retratar as duas dimensões da personalidade do artista, que são a vida
pública e a privada. Pois através do universo particular de cada um, podemos
compreender melhor os posicionamentos e opiniões dos artistas.
O
Procure Saber está confundido bibliografia e fofoca no aspecto da vida privada.
A obra bibliográfica nada tem a ver com o sensacionalismo da Web e revistas de
“mexericos” que tem aos montes por aí, - os conteúdos de fofoca dessas
publicações às vezes são ofensivos, difamadores e totalmente irrelevantes para
sociedade.
Todos
os pesquisadores, biógrafos e jornalistas (sérios) que se dedicam a fazer uma
obra, que por muitas vezes demoram três e quatro anos, vão ter tanto trabalho
para somente “achincalhar” a imagem pública de uma personalidade, - existem
casos que os biografados são os vilões na história, tais como: Hitler,
Mussolini, Napoleão entre outros. As atitudes tomadas por esses citados
anteriormente, já falam por si própria.
Essa
barreira que querem estabelecer soa como liberar a biografia que só fale bem
dos “homenageados” (?) – Caro leitor. Pense comigo, o artista é a imagem da
perfeição da natureza? Não! Eles são pessoas assim como eu e você, que tem
defeitos e qualidades. Ao criar uma biografia que o biografado escolhe o que
vai ser publicado, além de censura. É manipular as pessoas – Vai ser o “perfil
das meias verdades”.
A
liberação das biografias autorizadas pode desencadear algo muito mais sombrio
do que se imagina - Por quê? Ora... É simples vamos pensar que um jornalista,
escritor ou pesquisador decida escrever um livro sobre a história do Brasil,
automaticamente ele vai ter que citar uma figura importante como Dom Pedro II.
Então os descendentes (filhos, netos, sobrinhos, etc.) vão poder embargar essa
obra, ou a biografia será publicada somente com a autorização deles. E qualquer
citação de uma pessoa, deverá ser com sua autorização ou dos descendentes dela
(caso estiver falecida).
Isso
pode comprometer a história do Brasil. Além de atingir diversos
segmentos como cinema, teatro, TV e o Jornalismo. E porque o jornalismo?
Simples. Façamos uma reportagem que denuncie alguém, ou melhor, uma autoridade
que está cometendo irregularidades. O que ela pode fazer é entrar com uma ação
judicial contra quem a denunciou, por que o denunciante simplesmente não pediu
autorização para expor o nome da “grande figura”. Entendeu!? Fale de mim se
puder!
Mas
o motivo para toda essa polêmica já foi revelado na sua origem, mais
precisamente na entrevista dada por Paula Lavigne a Folha de São Paulo, em 05
de outubro de 2013. Vejam o trecho:
Em azul está
bem implícito o verdadeiro motivo de tanta discussão. “Não é justo que só os
biógrafos e seus editores lucrem com isso e nunca o biografado ou seus
herdeiros”, segundo Paula Lavigne.
O Brasil é um país no qual existem poucas
biografias de personalidades. Nos EUA foram feitas milhares de obras do Barack
Obama, Elvis Presley, John Kennedy. A biografia e os livros não dão tanto lucro
em terras tupiniquins que nem alguns pensam, o que dá lucro é a adaptação
dessas obras para TV, Cinema e Teatro. Os ícones da música mostram que além de
excelentes compositores e intérpretes, são também exímios empresários.