On the Run
Os lugares, os objetos, as pessoas com
seus sentimentos, gestos e olhares estão expostos e escondidos ao mesmo tempo.
A luz os revela através da lente mágica. A revelação é bela, como uma gestação:
aquele momento decisivo de um fluir natural de amar. O gesto da alma, que
enrique a visão e abre o coração. A fotografia!
A fotografia ideal não é para qualquer
um, nem para aquele que tem a lente mais clara, nem para aquele que tem a
câmera mais cara.
A fotografia é para quem tem luz no
coração. Fotografar é colocar o coração, o olhar e o equipamento na mesma
direção. È aprender enxergar o belo e o sublime na mais tenra criatura, é ver
os detalhes, é olhar para dentro do outro em um processo de alteridade, em que
o meu olhar se cruza com o seu olhar para eternizarmos em uma imagem única o
êxtase da relação. A fotografia é um eterno movimento, cujo momento deixa de ser
imanente e passar a ser transcendente quando o obturador é disparado.
A fotografia é a janela da alma
em uma manhã de primavera em que abrimos a cortina da vida para entrada da luz
divina, do paraíso que nos aguarda. Fotografar, é valorizar todos os instantes,
é buscar o singular. É olhar! Não se trata se um ponto de vista, mas de
intensidade de visão em que reside toda a insustentável leveza do ser.
O ideal da fotografia não é sair pelas
ruas porque se tem uma câmera Nikon, Leica ou Canon, o ideal da fotografia é
sair pelas ruas porque amamos outros seres humanos, amamos as florestas, amamos
os cavalos, amamos as belas mulheres de vestidos, que se movem com aquela brisa
leve de verão, dando um contorno de frescor e leveza para nossa turva visão.
Fotografar é amor.
Não existe fotografia ideal. Existe a
fotografia. Então, não vamos discutir no escuro aquilo que, facilmente, se
poderia discutir sob uma lâmpada a gás. É por isso, que Deus nos fez sua imagem
e semelhança, porque Deus viu que a imagem era bom. Ah, a fotografia...